terça-feira, 13 de março de 2012

A Cidade-Jardim e Chicago

Com o intuito de melhorar as péssimas condições da vida urbana, Ebenezer Howard, no livro “Garden-cities of Tomorrow” publicado em 1898, propôs alternativas urbanas e rurais para os problemas que ocorriam na época. Ele apresentou um breve diagnóstico sobre a superpopulação das cidades e suas consequências. Segundo ele, essa superpopulação era causada, sobretudo pela migração proveniente do campo. Era, portanto, necessário equacionar a relação entre a cidade e o campo.

Howard fez uma síntese das vantagens e dos problemas, tanto de um ambiente, como de outro. Ambos atuariam como “ímãs”, atraindo as pessoas para si. Resumindo, a cidade era um espaço de socialização, cooperação e oportunidades, especialmente de empregos, mas possuía graves problemas relacionados ao excesso de população e à insalubridade do seu espaço. Por outro lado, o campo era o espaço da natureza, do sol e das águas, bem como da produção de alimentos, mas também sofria de problemas como a falta de empregos e de infraestrutura, além de uma carência de oportunidades sociais.

A chave para a solução dos problemas da cidade, segundo Howard, era reconduzir o homem ao campo, criando uma terceira alternativa de vida, além da rural e da urbana. Seria a união do que há de melhor entre as duas. Dessa união, nasceria “uma nova esperança, uma nova vida, uma nova civilização” - (HOWARD, 1996, p. 110).


O modelo Cidade-Jardim

O modelo proposto, deveria ser construído numa área que compreenderia, no total, 2400 hectares, sendo 400 hectares destinados à cidade propriamente dita e o restante às áreas agrícolas. O esquema feito para a cidade, assume uma estrutura radial, sendo composto por 6 bulevares de 36 metros de largura que cruzam desde o centro até a periferia, dividindo-a em 6 partes iguais. No centro, seria prevista uma área de aproximadamente 2,2 hectares, com um belo jardim, sendo que na sua região periférica estariam dispostos os edifícios públicos e culturais (teatro, biblioteca, museu, galeria de arte) e o hospital. O restante desse espaço central seria destinado a um parque público de 56 hectares com grandes áreas de recreação e fácil acesso.


O esquema mostra a distribuição geral da Cidade-Jardim, conforme concebida por Ebenezer Howard (1996 - 1a edição 1898).


Ao redor de todo o Parque Central estaria localizado o “Palácio de Cristal”, uma grande arcada envidraçada que se destinaria a abrigar as atividades de comércio e a se constituir num jardim de inverno (onde os habitantes poderiam passear ao abrigo da chuva e contemplar a paisagem ), estando distante no máximo 558m de qualquer morador. Nesse local, poderiam ser comercializadas as mercadorias que requerem “o prazer de escolher e decidir” (HOWARD, 1996, p. 115.).



Distrito e centro da Cidade-Jardim. Mostra uma seção esquemática da proposta de Howard para a Cidade-Jardim (1898)


Em frente a Quinta Avenida e ao Palácio de Cristal, existiria um conjunto de casas ocupando lotes amplos e independentes. Mais adiante, estariam os lotes comuns. A população estaria próxima de 30.000 habitantes na cidade e 2.000 no setor agrícola. Com isso, a densidade média seria de 200 a 220 pessoas por hectare, segundo Hall (2002). Calculando apenas a área dos setores residenciais (incluindo a Grande Avenida), teria aproximadamente 251,72 hectares, o que daria uma densidade média de 119,18 habitantes por hectare, que pode ser considerada uma densidade baixa.

A Grande Avenida dividiria a cidade em duas partes e possuiria 128 m de largura. Ela constituiria, na verdade, mais um parque, com 46,5 hectares, e nela estariam dispostas, em seis grandes lotes, as escolas públicas. Também nessa avenida estariam localizadas as igrejas. No anel externo estariam os armazéns, mercados, carvoarias, serrarias, etc., todos em frente à via férrea que circunda a cidade. Dessa forma, o escoamento da produção e a recepção de mercadorias e matéria-prima seriam facilitados, evitando também a circulação do tráfego pesado pelas ruas da cidade, diminuindo a necessidade de manutenção.


Vista aérea da primeira Cidade-Jardim efetivamente construída: Letchworth, 1904.


Ebenezer Howard – Os três imãs
Mostra as três “forças” de atração da população: o campo, a cidade e a cidade-jardim, que seria capaz de conjugar as vantagens dos dois primeiros, sem suas desvantagens.
(Imagem traduzida e redesenhada por Fernanda Torniello, 2009.)



Chicago e a Cidade-Jardim

A Cidade de Chicago foi pensada, no Plano de Chicago de 1909, a partir do Modelo de Cidade-Jardim exemplificado acima, possuindo a maioria dos traços básicos para o diagrama de Cidade Jardim: a praça central, as avenidas radiais e as indústrias periféricas, um modelo físico com uma ilustração prática de descentralização industrial bem-sucedida a partir de uma cidade superpovoada. A cidade foi redesenhada, após o Incêndio de 1871, de um centro sombrio para uma cidade-jardim. Foram feitos jardins de flores plantadas nas faixas médias de principais ruas do centro, novos postes de ferro foram construídos investindo na iluminação, além de projetos paisagísticos ao longo do Lago Michigan e nos bairros vizinhos, e no campus do Chicago’s Field Museum. Foram gastos em torno de 5,2 bilhões de dólares para melhorar calçadas, ruas, parques e comunidades em Chicago.

Um grande exemplo da aplicação da Cidade Jardim é no Riverside, um subúrbio de Chicago, localizado a cerca de 9 km ao oeste da cidade e duas milhas fora do limite da cidade. A vila suburbana de Riverside foi a primeira comunidade planejada dos Estados Unidos, projetada em 1869 por Frederick Law Olmsted, paisagista americano. O projeto foi feito em consequência da “Chicago, Burlington and Quincy Railroad” (Estrada de Ferro de Chicago, Burlington e Quincy), construída em 1863. A Estrada de Ferro era próxima de uma grande área que era privilegiada por ter uma floresta natural e ser próxima do Loop de Chicago. O projeto incluiu uma grande praça central, localizada na Estação Ferroviária principal e o sistema de um grande parque que usa outros parques e praças triangulares nos cruzamentos dessa parte da cidade. O projeto incluiu ruas, vias arborizadas, parques, boa iluminação, além de incluir casas e prédios desenhados por arquitetos renomados como Frank Lloyd Wright, Daniel Burnham e Louis Sullivan. O Riverside é um marco na arquitetura e foi declarado Patrimônio Histórico Nacional em 1970.


Riverside, um subúrbio da Cidade Jardim, Chicago, projetado por Frederick Law Olmsted


Um exemplo da aplicação da Cidade Jardim em Chicago foi a “World’s Columbian Exposition” que projetou à mágica “White City”, que pode ser conhecida aqui.


Referências:

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.042/637

http://worldwhitewall.com/cidadesdoamanha.htm

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.085/235

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